É importante destacar, quando se fala de ansiedade, que o mundo contemporâneo é anisiógeno por si próprio. Vivemos em um sistema que nos demanda uma constante produtividade e desempenho. Que nos oferta diversas possibilidades de entretenimento. E, além disso, nos faz acreditar que nossa felicidade depende da experimentação desse arco-íris de sabores do consumo.
Saber que o mundo em que vivemos tem uma forma de funcionar que produz ansiedade, é um ponto importante para fazermos a seguinte pergunta. O que dentre todas essas ofertas é genuinamente desejado por mim?
Do ponto de vista individual, a ansiedade é entendida como algo que vem antes do medo, ela é uma espécie de medo do medo. É comum sentir ansiedade antes de fazer uma prova, por exemplo, ou antes de ter um encontro.
Além disso, nós tomamos decisões importantes para a nossa sobrevivência através da ansiedade. Como um mecanismo de defesa, ela nos sinaliza os perigos iminentes, reais ou imaginários. Se ao caminhar por uma floresta nos deparássemos com uma onça, por exemplo, certamente ficaríamos muito ansiosos. Isso é o nosso corpo nos preparando seja para fugir, se esconder tomar outra atitude possível para o momento.
Existe um tipo de ansiedade que é bastante comum em nossas vidas. Por exemplo, se você vai fazer uma entrevista de emprego, falar em público, ou fazer uma prova, é normal que você se sinta ansiosa em relação a isso. Numa situação dessas, eu também ficaria ansioso.
No entanto, se você sente uma ansiedade tão forte a ponto de não conseguir dormir pensando na entrevista, então se trata de uma ansiedade que é ruim, ou dita em termos mais técnicos, patológica.
Outro exemplo de ansiedade ruim, seria quando você não sabe o porquê esta ansiosa, você não consegue, conscientemente, dar um sentido ou uma origem para ela.
Uma maneira eficaz de enfrentar a ansiedade é através da psicoterapia, e neste contexto, abordarei especialmente a perspectiva psicanalítica, à qual estou associado.
A psicanálise entende que nesses casos em que a ansiedade é extrema ou sem conexão com a realidade, ela não está ligada a situação pela qual está passando, mas por questões inconscientes.
Vejamos dois exemplos ilustrativos:
Uma aluna vai apresentar um trabalho na faculdade. Ela não está correndo risco de vida, a professora não está ameaçando-a com uma arma, nem sua vida depende da apresentação. Nesse sentido, apresentar um trabalho está funcionando como gatilho para uma situação inconsciente que evoca um medo consciente no sujeito. Logo, a ansiedade para apresentar o trabalho pode estar ligada a um medo inconsciente de ser julgado ou rejeitado, por exemplo.
Outra pessoa com diagnóstico de transtorno de ansiedade generalizada, tem seus sintomas relacionados a um conflito inconsciente entre o desejo de independência e o medo de ser abandonada.
Por fim, o tratamento perpassa pela via do discurso e da subjetivação do desejo do indivíduo. À medida que o sujeito se expressa verbalmente, através da associação livre, torna-se consciente das interconexões entre eventos reprimidos no inconsciente, como experiências da infância, relacionamentos com cuidadores e traumas, e a situação atual que causa sofrimento.
Consequentemente, através do reconhecimento dessas interconexões, da relação transferencial com o analista e dos efeitos que a fala produz no sujeito, que se dá conta do que diz de uma forma diferente da qual se dizia antes, a ansiedade vai se esvaindo e desaparecendo.